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Este texto não é longo

Silvio Pilau
Silvio Pilau

Existem diversas coisas que eu não consigo compreender neste mundo. A Teoria Geral da Relatividade, de Albert Einstein, é uma delas. Já tentei entender seus detalhes, mas não sou inteligente o suficiente para isso.

Outra é o fato de que as pessoas amam gatos. Seres interesseiros, traiçoeiros, que visam dominar o mundo e fingem amor por seus donos apenas para serem alimentados. Não confio nos felinos. Mas há uma questão que supera todas as outras. Algo que, por mais que eu tente, não consigo aceitar: o fato de as pessoas se orgulharem por não ler – especialmente textos um pouco mais longos.

Isso não é de hoje, mas definitivamente ganhou destaque no mundo contemporâneo. A preguiça para a leitura cresceu exponencialmente em tempos regidos pelo Twitter, pelo Instagram e pelo Facebook, em que a atenção dos jovens se dispersa quando uma frase tem mais de 280 caracteres ou não vem acompanhada de uma imagem. É gente que lê de tudo um pouco, mas muito sobre nada. A Geração Headline, que sabe todas as manchetes, mas cansa rapidamente antes de terminar um parágrafo. 

Há, evidentemente, consequências para isso. Estamos caminhando para uma época formada por pessoas capazes de falar sobre variados assuntos, porém sempre de forma rasa. Opiniões ocas baseadas em pensamentos superficiais, de gente que não consegue se aprofundar em um assunto, seja ele qual for. Tudo isso leva a ideias frágeis, a posições que, embora veementes, são baseadas em alicerces tão fortes quanto castelos de cartas, vindas de pessoas que, em função do alcance da internet, acabam por facilmente convencer outros de suas opiniões preguiçosas e nada embasadas.

Em minha curta vida de redator/escritor/publicitário/crítico, cansei de ouvir gente me dizendo: “Mas por que tu não escreve textos mais curtos? Não gosto de ler textos longo.” Bem, o problema é seu. Só tenho a lamentar que você acredite estar certo ao preferir basear toda uma opinião em um texto curto e rápido, no qual é impossível desenvolver uma ideia mais fundamentada sobre qualquer tema. Longo é “Guerra e Paz”, de Tolstói. Longo é “2666”, de Roberto Bolaño. Um texto que você lê em cinco ou seis minutos, me desculpem, não é longo.

O ato da leitura exige, sim, esforço. Exige atenção, foco e, acima de tudo, reflexão. Claro que, muitas vezes, a correria do dia a dia nos deixa cansados e o que menos queremos é ler algo, especialmente, que nos faça pensar. Mas o hábito da leitura é como o hábito de ir à academia: no início, a preguiça vai tentar falar mais alto, mas é preciso superá-la, pois os benefícios são muitos. E, quando menos notarmos, estaremos realmente apreciando a atividade. Mais do que isso, talvez sentiremos falta quando ficarmos algum tempo longe dela.

Não é fácil. Somos ensinados desde crianças a ver livros como sinônimos de chatice. Obrigar estudantes do Ensino Médio a ler obras que até mesmo adultos têm dificuldades de compreender é um desserviço à edição e a esse costume tão rico. O hábito da leitura evolui. É preciso começar aos poucos, com livros fáceis de ser digeridos, para criar o gosto das palavras em mentes jovens – é o valor inestimável do que J. K. Rowling fez com “Harry Potter”. Quando a semente estiver plantada, o hábito se tornará prazer. O texto “longo” virará curto. E você ter chegado até aqui, a esta última frase, é prova disso.