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Sobre storytelling, espinafre e vitamina c

Paulo Neumann
Paulo Neumann

Não faltam livros e autores sobre storytelling na literatura de comunicação e publicidade.

De fato, é uma poderosa ferramenta para contarmos histórias, estruturarmos argumentos e, claro, vendermos ideias e produtos. Mas não é nova.

Pelo contrário, há inúmeros exemplos do seu uso pela publicidade ainda no começo do século passado - ou século XX, para os humanos que, assim como eu, nasceram naquela época. 

Um desses exemplos fazem milhões de vítimas até os dias de hoje, e provavelmente você que nos lê é uma delas. Estamos falando da vitamina C. Basta passar em qualquer farmácia para se deparar com dezenas de cartazes que prometem a proteção para gripes e resfriados a quem utilizar a vitamina C. Sim, é tudo mentira. 

A vitamina C é ótima para prevenir o escorbuto e outras doenças, mas tem eficácia zero contra gripes e resfriados. Ocorre que o cientista - e vencedor do Prêmio Nobel - Linus Pauling, lançou um livro em 1970 contando que ingeria gramas de vitamina C todos os dias, fazendo com que ele estivesse imune a gripes e resfriados. A indústria farmacêutica se aproveitou disso, embalou essa história e a vende até os dias de hoje. Mas não passa de um mito já desmentido pela ciência. 

 Voltamos no tempo só mais um pouco, desta vez para a década de 30, nos EUA. As vendas de espinafre não iam lá muito bem, fazendo com que o governo americano estimulasse a criação de um personagem de histórias em quadrinhos que, ao comer a verdura, se tornava forte e vencia seus desafios. Nascia o marinheiro Popeye. Coincidência ou não, as vendas cresceram 33% naquela década, estimulando a economia pós-Grande Depressão. O detalhe fica por conta de que o espinafre nem tem lá essa capacidade de dar tanta energia às pessoas, visto que seus níveis de ferro são relativamente baixos.

Contar boas histórias é realmente poderoso há décadas. Usar o storytelling com sabedoria, e falando a verdade, pode fazer mesmo a diferença - com ou sem internet.